No mundo globalizado em que vivemos , tendo nosso cotidiano invadido por situações e informações provenientes dos mais diversos lugares , é possível afirmar que há uma cultura "pura"? Até que ponto chegou o processo de mundialização da cultura? Em seu livro "Culturas Híbridas" , o pensador argentino Néstor García Canclini analisa essas questões. Lançando um olhar sobre a história , ele declara que , até o século XIX, as relações culturais ocorriam entre os grupos próximos, familiares e vizinhos, com poucos contatos externos. Os padrões culturais resultavam de tradições transmitidas oralmente e por meio de livros, quando alguém os tinha em casa, porque bibliotecas públicas ou mesmo escolares eram raras. Os valores nacionais eram quase uma abstração , pois praticamente não havia a consciência de uma escala tão ampla. Já no século XIX e início do século XX , cresceu a possibilidade de trocas culturais , pois houve um grande desenvolvimento dos meios de transporte , do sistema de correios , da telefonia , do rádio e do cinema . As pessoas passaram a ter contato com situações e culturas diferentes. As trocas culturais efetivadas a partir de então ampliaram as referências para avaliar o passado, o presente e o futuro. O mundo não era mais apenas um local em que um grupo vivia. Tornou-se muito mais amplo, assim com as possibilidades culturais. A cultura nacional passou a ter determinada constituição e os valores e bens culturais de vários povos ou países cruzaram-se , com a consequente ampliação das influências recíprocas. No decorrer do século XX , com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação, o cinema , a televisão e a internet tornaram-se instrumentos de trocas culturais intensas , e os contatos individuais e sociais passaram a ter não um , mas múltiplos pontos de origem. Desde então as trocas culturais são feitas em tal quantidade que não se sabe mais a origem delas. Elementos de culturas antes pouco conhecidas aparecem com força em muitos lugares, ao mesmo tempo. As expressões culturais dos países centrais, como os Estados Unidos e algumas nações da Europa , proliferam em todo o mundo. As culturas de países distantes ou próximos se mesclam a essas expressões , construindo culturas híbridas que não podem ser mais caracterizadas como de um país , mas como parte de uma imensa cultura mundial. Isso não significa que as expressões representativas de grupos , regiões ou até de nações tenham desaparecido. Elas continuam presentes e ativas , mas coexistem com essas culturas híbridas que atingem o cotidiano das pessoas por meios diversos , como a música , a pintura , o cinema e a literatura , normalmente fomentadas pela concentração crescente dos meios de comunicação. Alguém poderia perguntar: Por que essas formas particulares , grupais, regionais ou nacionais deveriam existir no universo cultural mundial, já que vivemos num mundo globalizado? Em seu livro "Artes Sob Pressão : Promovendo a Diversidade Cultural na Era da Globalização" , o sociólogo holandês Joost Smiers responde que assim haveria a possibilidade de uma diversidade cultural ainda maior e mais significativa; haveria uma democracia cultural de fato à disposição de todos. Em suas palavras : "A questão central é a dominação cultural, e isso precisa ser discutido com propostas alternativas para preservar e promover a diversidade no mundo".
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