O processo de independência política e a constituição do Estado Nacional amadureceram nos ano 1850. Diante das grandes diferenças sociais e regionais , uma pequena elite - uma "ilha de letrados" em um "mar de analfabetos", na expressão de José Murilo de Carvalho - , durante o Segundo Reinado , propôs-se a construir uma imagem mais ampla do Brasil e do que representava ser brasileiro . Com o Colégio D. Pedro II, referência na época , as faculdades de Direito em São Paulo e Olinda (depois , Recife) centros de formação da classe dos bacharéis , conferiam unidade ideológica a essas elites políticas. O século XIX foi marcado também pela secularização da Cultura . Nesse momento , as igrejas e irmandades perderam para o Estado o papel de principais patrocinadoras das obras de arte . No caminho da construção da identidade , coube ao Instituto e Geográfico Brasileiro a projeção de uma memória nacional . A partir do IHGB , promoveu-se O elogio da colonização portuguesa e esboçaram-se os ideais de um país tropical civilizado , onde , sob a liderança do colonizador português , índios e africanos construíam uma sociedade sem conflitos. Assim como a maior parte da produção erudita feita pela elite imperial , as ações desse instituto iam ao encontro das últimas tendências artísticas e literárias europeias. O Romantismo , por exemplo, valorizava as especificadas históricas do país, a natureza tropical e a figura idealizada do índio. Desse modo , a arte passou a ser utilizada como meio de difusão da identidade nacional. Ao lado de bustos e fotografias , os quadros e esculturas , como os da Academia de Belas Artes, passavam a fazer parte do imaginário da nação. Grandes pintores , como Pedro Américo e Vitor Meireles , a serviço do Estado , retrataram episódios históricos e símbolos da identidade nacional. No mesmo caminho , na ópera " O Guarani" , o compositor Carlos Gome fez clara referências aos nativos , idealizados como fundadores da nacionalidades brasileira e signos de heroísmo. A influência europeia se estendeu para a arquitetura , na qual surgiram os estilos neoclássicos , romântico e eclético . A introdução de vidros e jardins deixou os sobrados e palacetes mais claros e arejados do que as toscas e escuras moradas coloniais . O interior das edificações adquiriu novos requintes , com salões assoalhados e tapetes. A posse de um piano , ostentado entre o mobiliário doméstico , era o grande símbolo de status das famílias abastadas . Nas maiores cidades , como Rio de Janeiro , Salvador e Recife , apareceram jornais , centros literários e novas formas de sociabilidade - teatros , festas , saraus , concertos , bailes e jantares. No mesmo período , com a navegação a vapor , surgiram linhas regulares entre o Brasil e a Europa . Assim , os influxos da modernização europeia , no auge da expansão capitalista , chegavam mais rapidamente ao país. Rio de Janeiro tornou-se o grande centro "civilizador", palco para as novidades , Palácios , jardins públicos , calçamento , iluminação a gá , rede de esgoto , abastecimento de água , bonde sobre trilhos e companhias de artistas famosos eram algumas delas. Os estúdios fotográficos atendiam ao desejo da classe senhorial agrária e da elite urbana de perpetuar sua imagem . Aos poucos , os retratos tornaram-se acessíveis também ás pessoas de menos posses. Na Rua da Alfândega , predominavam os artigos ingleses , como relógios , remédios , roupas e louças . Do outro lado , na Rua do Ouvidor , os artigos da França eram maioria , Ali, tomando com seus os padrões de consumo e de comportamento de capital francesa, a elite carioca tinha acesso e modistas, alfaiates , chapeleiros , sapateiros , joalheiros e charuteiros , que dividiam espaço com salões de beleza , lojas de música, sorveterias , confeitarias e cafés inspirados nos bulevares de Paris . Assim , os ideais de civilização" e urbanidade tornaram-se uma espécie de modelo para a elite imperial e o Rio de Janeiro passou a difundir a imagem do Brasil que as elites desejavam construir. Paralelamente , na cultura popular , várias formas de mestiçagem e sincretismo reuniam as diversas referências culturais que compunham o país, Em núcleos urbanos ou rurais , a herança africana se fazia visível. Mesmo com as restrições e os preconceito por parte da elite , batuques , maracatus , grupos de capoeira e o candomblé forjavam uma identidade afro-brasileira pujante , que teimava em se mostrar viva. Apear das aspirações da elite de construir uma civilização espelhada na europeia , entre o norte e o sul , a cidade , a capital e as províncias , a diversidade e impunha e revelava um país de formas contrastes.
